-- Na pré-história os homens reagem à escassez de alimento ou de recursos se unindo, excluindo as mulheres da cerimônia de poder masculinas. Voltando a agressão contra elas.
-- Na Europa pré-histórica apareceram os indo-europeus de Kurgan, pastores. Foi o fim de uma civilização de parceria. Surgiram culturas nas quais valores “femininos” foram destruídos. Converteram-se em sociedades nas quais a guerra “heróica” e o governo de uma pequena elite masculina, governo da força e do medo, passaram a ser a norma.
-- Esse pastoralismo nômade instala-se em terras inférteis ou tornadas inadequadas para a agricultura. Mas ele não é só o resultado de ambientes inóspitos: também causa o ambiente inóspito.
-- Usa, como tecnologia, a escravidão de seres vivos, de animais, do que produzem. Animais são domesticados, desde pequenos até a idade adulta e, depois, são mortos e devorados.
-- O pastoralismo não conduz necessariamente à escravidão; e povos agricultores também eram escravistas – tribos primitivas da África ou estados como Atenas e a América do Sul dos séculos 18 e 19.)
-- É afastada, é evitada a empatia ou o amor por criaturas que devem ser mortas. O que pode explicar a insensibilização de emoções mais “sutis”, que caracteriza a sociedade de dominação.
-- O treinamento de oficiais nazistas da SS incluía a criação de filhotes de animais que alimentavam, com os quais brincavam, dos quais cuidavam. Depois, matavam-nos sem demonstrar emoções.
-- Se habituados a viver de animais escravizados como única fonte de subsistência, habituamo-nos a admitir a escravidão de seres humanos.
-- Da supressão do afeto e do amor resulta um afeto embotado, uma redução da capacidade de responder a outros afetos que não raiva, desrespeito e emoções “duras”.
-- Sofrer a dor, no homem, é coragem; na mulher, masoquismo. A sociedade de dominação criou esse conceito.
-- O escravismo vê metade da humanidade como peças de propriedade a serem controladas. E a escravização e abate de animais para subsistência também fundamenta a visão da mulher como procriadora ou tecnologia sexual reprodutiva. Como propriedade do homem, cuja sexualidade tem como função ser controlada e servir aos “proprietários” homens.
-- Ainda hoje, entre certos povos tribais, o amor sexual entre casais é considerado – corretamente, aliás – um perigo para a preservação das hierarquias do poder masculino. Entre beduínos egípcios, o amor sexual é desencorajado. Desejo e amor são equiparados à dependência – inimigos da independência, o valor mais ligado à honra.
Riane Eisler, em O Cálice e a Espada (editora Via Optima, Porto, Portugal, 1998) e O Prazer Sagrado - Sexo, Mito e Política do Corpo (editora Rocco, 1996). O texto aí em cima foi retirado do encarte do cd ESTUDANDO O PAGODE de Tom Zé. Neuza- esposa de Tom Zé- é quem deve de saber das coisas... É ela quem nos podia dar um dos mais amorosos e solidários relatos de amor, sei lá... Afinal de contas porque o macho Tom Zé faria uma homenagem às fêmeas dessa grandeza? CRICAS