quinta-feira, 23 de julho de 2009

PORNIFICADOS

PORNIFICADOS
Como a pornografia está transformando as nossas vidas, os nossos relacionamentos e as nossas famílias
Pamela Paul
Editora Cultrix
*************************************************************
Vamos ler juntinhas (os)?
CRica

29 comentários:

disse...

Estou na introdução, ainda, devido as dores da neurite as coisas estão devagar.No entanto,sinto que vou descordar de muitas coisas ,mesmo com toda exposição corporal, digamos eu vejo um grande onda moralista pasando pelo mundo e se instalado, coisa meio fascista,mesmo. bjus

crica disse...

Algumas páginas mal lidas e também tive essa impressão,Bê: "Ah! Mas a conversa dessa moça parece meio moralista!" Vou comprar o livro, quero lê-lo no colo. Acho que mesmo discordando com algumas questões e/ou concordando com outras a leitura e o bate-papo entre nós sobre este assunto serão muito divertidos. Vou atrás de comprar, emprestar ou alugar o livro. Esse, particularmente deve ser legal de ler na cama...hehe. Então vamos falar sobre sacanagem?

crica disse...

Notei uma coisa mas não tenho certeza e foi veigem minha ou não. Tive a impressão de que a quantidade de páginas acesíveis no Google Books para visualização desse livro diminuiram. Tô doida?

crica disse...

tradução : "e foi veigem " > se foi viagem.

Pedro disse...

Eu acho que as páginas disponíveis alteram dependendo de quando se faz o acesso. Ou então tô ficando doido também. kkk.

Marlos Salustiano disse...

Olá galera!

Legal vocês terem já começado!

Pois então, certamente discordaremos/concordaremos com várias colocações da Pamela, isso é natural. Aliás, o livro funciona somente como MOTE, porque o grande barato mesmo será (como sempre) a nossa GLOSA!

Concordo com vcs, meninas, sobre um certo ranço moralista (ou até mesmo neofascista, neoconservador, como apontou a Bê) que anda em voga atualmente, mas seria importante ressaltar o seguinte: a pornografia já foi contracultura, já foi vanguarda, já teve um período libertário e subversivo (nos anos 60/70), mas dos anos 80 pra cá ela se tornou indústria de porte multinacional e foi cooptada pelo Status Quo corporativo/conservador.

Eu penso que se de um lado da moeda temos o conservadorismo machista patriarcalista islamo-judaico-cristão (Abraão e cia ltda.), do outro temos MC Catra e a Mulher Filé - são as duas faces de uma mesma postura hipócrita, misógina e controladora: enquanto o Superego patriarcal censura e LACRA o corpo de suas filhas, esse mesmo "papai" censor vai ao puteiro servir-se das filhas dos outros, sob os auspícios dos cafetões (que são capatazes do patriarcado).

Então a questão é: como gerar então condições saudáveis para o livre exercício da sexualidade feminina?

Porque no momento o que vemos é o corpo da mulher funcionando como peça no tabuleiro do jogo patriarcal.

Não vejo nas mulheres-fruta uma resposta libertária.

Com o advento da Internet (e das webcams e outros gadgets) a situação se tornou ainda mais complexa: parte do que havia de libertário foi se reconfigurando e reaparecendo (casais ou grupos de pessoas fazendo vídeos amadores para deleite exibicionista/voierístico) mas também os mecanismos catequéticos da indústria pornô foram esponenciados: tornou-se facílimo recrutar mocinhas bonitas e ambiciosas pra fazerem filmes pornôs.

Eu assisto filmes pornôs desde a minha adolescência e sou testemunha do quanto eles se tornaram cada vez mais brutais e misóginos.

Cada vez mais o que vemos é isso: corpos "sarados" (e o verdadeiro significado de "sarado" não é saudável não, mas sim "formatado pela padronagem da ditadura hedonista") regidos por uma coreografia mecânica onde o corpo dominante (do macho) se serve de um corpo submisso (da fêmea) em posições bem definidas, começando pelo felaccio (e raramente vemos cenas de cunilíngua), seguido pelo D4, "frango assado", "papai-mamãe", "de ladinho", DP (dupla-penetração anal, vaginal ou anal-vaginal), culminando na ejaculação facial.

Entre o felaccio inicial e a ejaculação facial final a ordem das posições varia um pouquinho, mas são sempre as mesmas. E os gemidos femininos são tortuosamente FALSOS (aliás só mesmo uma mulher fetichista-masoquista conseguiria talvez ter um gozo autêntico nessas condições).

Dentro desse universo não há lugar pro gozo da mulher, porque não há sedução.

E aí fica a minha tão acalentada fantasia: como seriam filmes pornôs dirigidos pelas mulheres? Filmes à imagem e semelhança de seus desejos e fantasias? Filmes configurados conforme seu bio-ritmo, conforme a dança de suas energias?

Porque sejamos francos: há uma distância ABISSAL entre a fêmea com "um tufão nos quadris" (conforme a letra de Chico Buarque) e a fêmea que faz um "créu velocidade 6".

A primeira é uma força indômita da natureza: fascinante, transcedental, criativa, tão delicada e sensual quanto vigorosa e voraz, ao passo que a segunda está apenas (e infelizmente) reduzida a uma máquina.


Bom, abração pra vocês e aguardo seus comentários!


p.s. Pedro, desencana das páginas do livro: o que importa é tudo o que vc sente, pensa, já viveu e vive. O livro é um mero pretexto. O tema é o que realmente interessa! :-)

disse...

Pois é, essas mulheres-coisas, frutas plantas eu acho uma das maiores bizarrices dos últimos tempos, e tem um viés bastante preconceituoso na coisa, meio "às avessas" com ar de libertário, tipo: "olhe-me sou imensa, gostosa e tal"Acho estranho, para dizer o mínimo.gente, quanto as páginas vcs tem razão, parece que se alternam na falta,já notei em outros e-livros também.;-)

Pedro disse...

Olá galera! Muito legal a discussão. É sempre bom me informar com essa turma que montamos. Bacana o seu comentário Marlos! Muito bem observado que a pornografia foi cooptada pela idelogia institucionalizada, a do capital. Aliás, esse é um problema que pode ser visto em várias áreas que são estudadas na academia e obviamente isso tem implicações e diz respeito à vida social. Como observamos a partir da discussão que fizemos sobre o Slavoj Zizek, o capitalismo tem certa habilidade de cooptar aquilo que lhe confronta. Por isso a Filosofia tem a importante tarefa de estar sempre reformulando as perguntas, criticando e até mesmo sugerindo novas direções. Mas como criar uma ética que não seja moralista é um enorme desafio, não é mesmo? Infelizmente, não tenho muitas informações sobre conceituações acerca da Ética, então paro por aqui. (...) Acho que, não só a questão da pornografia e das relações sexuais, mas também como nos comportamos em diversas situações na vida social, deve sempre respeitar a condição do ser humano, sua diversidade. Infelizmente, a ignorância é amplamente empregada por várias pessoas e, faz, de certa forma, parte do modus operandi do funcionamento da sociedade. Então, lastimo saber que existem homens que tratam as mulheres como objetos de consumo, fruta, carne de açougue (muito bem observado pelo Tom Zé no Estudando o Pagode); assim como também lastimo mulheres e homens que recusam a compreender a autonomia e a vontade de se descobrir. Diante disso, o que fazer da coisificação sexual e também do alheamento do homem à esfera política, por exemplo? A reforma do pensamento de uma sociedade começa a partir da reforma íntima. E as reflexões que fazemos aqui, ou até mesmo sozinhos, é muito importante para tanto. No quesito relações sexuais, limito-me a envolver com mulheres que não são frutos dessa sociedade doente. Já me sinto satisfeito com isso... Essa discussão é muito multivariada... Adiante, se der pé, vamos entrar na questão do prazer, do amor e etc... Pois o sexo é muito.

Pedro disse...

Ah, sei que o livro é o mote Marlos. Com certeza só como mote ele vai nos bastar. Mas até queria saber o cerne da proposta dessa moça; fiquei curioso... Mas não vou ler, pois não vou comprar o livro e tenho muitos outros pra ler nestes tempos. Mas nossa discussão aqui de quando em vez já será hiperprodutiva para nossa informação. Abraço a todos, até!

Marlos Salustiano disse...

O cerne da questão da Pamela é exatamente esse que Zizek apontou em vários de seus livros (em particular num que estou lendo recentemente, chamado "As metástases do Gozo"): que a sexualização foi cooptada pelo corporativismo.

Daí surge esse desafio ético que precisa ser encarado por todos nós, porque a criançada tá crescendo em um mundo pornificante e se nós adultos não soubermos explicar pra elas, sem moralismo hipócrita, o que é sexualidade libertária e o que é sexualidade reificada/coisificante, teremos falhado e contribuido pro agravamento da situação.

A importância do livro está em propor essa reflexão, em levantar este debate.

A hipocrisia maior repousa justamente nessa questão da sexualidade, porque o tão incensado e defendido "recato" islamo-judaico-cristão é uma piada: somos todos pagãos, adoramos sexo, adoramos transar e também ver outras pessoas transando (PornoTube, RedTube, etc).

Esta simples evidência de caráter exibicionista/voierístico abala os
alicerces do discurso hipócrita que
pretende nos impor (de fora pra dentro) uma economia libidinal celibatária: a cópula reduzida ao frígido cumprimento de um DEVER reprodutivo.

Mas sexo é DIVERSÃO, LAZER, acima de tudo. E mais ainda: lazer SAUDÁVEL.

Fiz essa ressalva um tanto pleonástica sobre a imposição celibatária vindo de fora pra dentro porque em contrapartida, reconheço e respeito aquelas pessoas que genuína e espontaneamente preferem levar uma vida alheia ao sexo (é o celibato que vem de dentro pra fora).

Pra mim, dentro da nossa indisfarçável paganidade, a etiqueta sexual consiste no seguinte: não lesar o(s)/a(s) parceiro(s)/a(s) nem física (DSTs, etc) nem psicologicamente (traição aviltante, que produz estilhaçamento da auto-estima, ímpetos suicidas ou então homicidas).

A problemática consiste no seguinte: contrariando a ascese moralista e hipócrita do patriarcalismo islamo-judaico-cristão (e o seu discurso "tranca-corpo") e os mandamentos hedonistas hipersexualizantes difundidos via bombardeio midiático (com seu discurso "arromba-corpo"), é preciso elaborar um discurso heterodoxo, sensato, que dialetize o prazer e os afetos e possa funcionar como ponto de apoio pra garotada.

Do contrário continuaremos produzindo pessoas estilhaçadas e radicalmente díspares, perpetuando a estúpida polarização santa/puta (ou santo/puto): extremos complementares indissociáveis.

Marlos Salustiano disse...

E ainda: é CRUCIAL poder afirmar o EROTISMO como poética da sexualidade em contraposição à pornografia: erotizar é experimentar, criar, diversificar, ao passo que pornificar é explorar, reduzir, impor um paradigma biomecânico e fenotípico.

(...)

Bom, agora é só aguardar a Cris postar alguns fragmentos que ela tenha lido pra gente esmiuçar.

Há braços!

Pedro disse...

Concordo com tudo que disse Marlos. Só não entendi o lance de dialetizar "o prazer e os afetos", pois, pra mim, os dois são complementares - várias pessoas acham isso. Talvez eu não entendi a dialética dessas duas variáveis. Abraço, até! =)

Lampião disse...

Cacete, me coçando aqui.
Não li ainda a porra do livro, nem sei se me animo.
Mas é o seguinte, não vou escrever muito para não parecer o cara mais chato, tipo Marcelo Nova do blog.
Mas assim, a pornografia como é posta hoje, e sempre, desde a invenção da prensa, é transformar sexo em sexo mesmo, talvez o último dos instintos humanos ainda pouco transformado.
Depois falo mais do sexo como um jogo de poder, e da sua plenitude que só é possível toca-lo no inconciente, e o erotismo, o amor, o prazer são apenas sombras platônicas dele, que se dão dentro da conciencia, e prum velhusco como eu é pouco.
Lamp

Lampião disse...

Porra eu só li alguma coisa do livro "Pornificados" agora, lá no Google books. Uma porcaria aquilo.
Não gosto de criticar nem de críticos de literatura, mas sinceramente este tipo de livro é um papa-níquel, não há nenhuma profundidade nele, nada, é vazio.
Ele é uma tentativa comercial do que foi o Relatório Hite, repete a fórmula.
Um olhar melhor sobre ponografia recomendo o ótimo www.botecosujo.com
Mais ainda, a experiência pessoal que temos (a minha é vasta) dá uma discussão bem melhor e maior do que este livreco.
Lamp

Pedro disse...

E aí Lamp! Com certeza é por aí mesmo, nossas experiências pessoais são a contribuição que interessa para o batepapo que foi iniciado por aqui. Inclusive o Marlos já tinha atentado aqui nessa página de comentários sobre a utilização do livro como MOTE para a discussão. Algumas folheadas no livro, tive a mesma impressão que você... Me pareceu um livro somente descritivo. Mas como o que interessa é a ideia dos convivas, o que importa é o que cada um tem a falar: somar à diversidade. Inclusive, seu comentário, foi uma opinião que não tinha pensado antes: "a pornografia como é posta hoje, e sempre, desde a invenção da prensa, é transformar sexo em sexo mesmo, talvez o último dos instintos humanos ainda pouco transformado.
Depois falo mais do sexo como um jogo de poder, e da sua plenitude que só é possível toca-lo no inconciente, e o erotismo, o amor, o prazer são apenas sombras platônicas dele, que se dão dentro da conciencia, e prum velhusco como eu é pouco." Posso não concordar com tudo que disse, mas gostei da sua opinião, pois não choveu no molhado. Talvez esse papo seu renda mais um pouco, vamos ver. Abraço!

Marlos Salustiano disse...

Então vamos lá, Pedro!

A questão da dialética entre prazer e afetos segue uma tipificação junguiana: pro Jung (e nesse ponto até Lacan concorda com ele) o prazer pertence ao terreno das emoções (material pulsional, instintivo) e os afetos são elaborações mais ponderadas: formam a sentimentalidade (que é produto de uma pesagem de valores e de vivências - é portanto um processo com forte participação da razão).

São princípios antagônicos e complementares, daí a dialética entre eles.

Quanto ao livro da Pamela: não é nem uma obra-prima nem um livreco. É um livro muito bom, parte de uma premissa muito boa: possui erros e acertos, naturalmente. Como eu disse antes, nos serve como MOTE.

Eu poderia ter sugerido a "História da Sexualidade" (do Foucault), mas aí talvez vocês achariam pesado demais, então preferi sugerir esse que é mais abordável e facilmente criticável.

Bom, a pornografia NUNCA transformou sexo em sexo. O que ela sempre fez foi produzir um SIMULACRO de sexo, ou seja: sexo ENCENADO, feito pra agradar primeiramente a tara do seu respectivo diretor.

O que vemos na gigantesca maioria dos filmes pornográficos dos anos 80 pra cá é um desfile de corpos masculinos "sarados" e de corpos femininos siliconados seguindo uma coreografia óbvia, previsível, entediante.

Quando vemos as capas dos filmes somos atraídos pelos belos corpos expostos mas depois, ao assistí-los, a artificialidade da performance quebra o "encanto".

Tudo o que havia de democrático, libertário, diversificado, imprevisível, sedutor e saudavelmente depravado na pornografia dos anos 70 pra trás, foi sendo gradualmente subtraído e substituído por esses acoplamentos de corpos plastificados.

O prazer de uma genuína lascívia exibicionista, esse nós só iremos reencontrar em alguns dos vídeos amadores (e veja bem, existem até amadores FAKE) que circulam pela web.

De qualquer forma, ainda existem alguns focos de resistência ao artificialismo frígido que se tornou padrão nessa indústria: as performers Bella Donna e Sasha Grey (que está fazendo seu debut dentro do mainstream como protagonista do último filme de Steven Soderbergh, "The Girlfriend Experience") são figuras emblemáticas disso.

Sedução, carinho, bom-humor, imprevisibilidade, criatividade, tesão com T, fetiche: enfim, tudo aquilo que faz do sexo uma prática saborosa infelizmente se tornou raro e segmentado dentro do mundo pornô.

O mais importante sem sombra de dúvida é que a gente possa muito mais viver e aprimorar nossas experiências do que apenas reclamar da pornografia (mas cá pra nós: que ela pode desempenhar um papel COADJUVANTE muito interessante e divertido, disso não há dúvida, ou há?)*rsrs


Há braços pcês!


(quedê Cricota e as meninas pra darem uma transformada nisso aqui??)

Marlos Salustiano disse...

À propósito, o vídeo com a entrevista do jornalista Scott Feinberg (do Los Angeles Times) com a Sasha Grey está imperdível:

http://latimesblogs.latimes.com/files/2009/05/sasha-grey.html

Vale a pena conferir justamente porque ela é uma jovem muito experiente, articulada e culta e sobretudo porque deu respostas interessantíssimas tanto ao jornalista quanto à platéia (constituída na sua maioria por alunos da Brandeis University, em cujo auditório a entrevista foi realizada).

(...)

Sasha Grey e Catherine Millet: heroínas de uma nova "nouvelle vague" feminista?



P.S. - Crica (querida e sumida), como você reagiria se uma de suas filhas dissesse:"Mãe, vou virar atriz pornô!"?

Marlos Salustiano disse...

Muito interessante também a entrevista da Sasha Grey no programa da top model Tyra Banks:

parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=BxUq_zzvAaA
parte 2: http://www.youtube.com/watch?v=mYs2YfNlRBg
partes 3 e 4: http://www.youtube.com/watch?v=b8dIxHSxeUk

O grande mérito desse programa está em ter promovido um choque de idéias , reunindo depoimentos contundentes tanto pró quanto contra a pornografia!

Realmente dá o que pensar: de um lado o patrulhamento ideológico neoconservador/neofascista querendo encaretar, enquadrar e controlar as mulheres, produzindo "virgens Maria" em série; do outro lado há toda essa falácia do cafetismo corporativo da indústria pornô que ao defender valores como "liberdade" e "espontaneidade", na verdade pretende faturar em cima da imaturidade de jovens que querem ganhar uma grana "fácil" e rápida.

Enquanto esses extremos ideológicos se engalfinham, homens sensatos (que não se deixam reduzir à babacas emasculados e também não se perfilam entre os misóginos abusadores/estupradores) e mulheres sensatas (que não se deixam tolher pelo moralismo religioso nem abusar pelo prostituinte hedonismo do status quo) buscam formas lúdicas, saudáveis, igualitárias e consensuais de entrosamento não apenas físico, mas sobretudo AFETIVO, resistindo ao embrutecimento!

(...)

Esse blog aqui merece uma visita (tem MUITA informação relevante):
http://antipornographyactivist.blogspot.com/


Há braços pcês!


p.s. Essa madrugada passou as "1001 Noites" do Pasolini no Telecine Cult! Tentei gravar pra depois jogar na web, mas deu "tilt" aqui no aparelho...*rsrs

Pedro disse...

Gracias pela explicação e pelas novas informações Marlos. =)

crica disse...

Bê,Pedro, Marlos, Lamp & CIA confesso que estava meio desconfiada dessa experiência - depois explico, tá? - mas os comentários de vocês me animaram tanto que domingo comprei o livro.

Depois de folheá-lo - dá pra ler assim - resolvi começar pelo capítulo em que autora trata das crianças na tal cultura pornificada contemporânea. Minha opinião é que a gente pode não concordar com a postura antipornográfica moralista e feminista da Pamela mas não dá ignorar nossa desatenção diante dos dados e da situação que ela apresenta, temos sim muita coisa pra conversar...

Marlos, se uma das meninas aqui em casa quisesse ser atriz pornô não ia rolar clima não. Elas sabem que podem fazer qualquer coisa, menos magistério! - que também não deixa de ser uma outra forma de prostituição bem barata, sem glamoures ou orgasmos, porém bem fornida de sadomasoquismo. É claro que estou fazendo pilhéria...essa possibilidade é tão improvável que não consigo respondê-la com seriedade. Uma pena eu não dominar o inglês, queria mesmo saber do que fala tal Sasha naquela entrevista e programa.



Tenham um pouco de paciência com a minha lerdeza que estou preparando o próximo post enquanto mastigo o que vou lendo.



Por ora minha sugestão é o vídeo "MULHERES NO SEX SHOP".

Nele a antropóloga Maria Filomena Gregori fala sobre a sexualidade na era pós-feminista e discute sobre o mercado erótico, antes considerado como mais uma forma de submissão das mulheres aos homens e que atualmente vem transformando a mulher em protagonista de seu erotismo, criando novas formas de relações entre as pessoas. O filme está disponível para download aqui:
http://cafesfilosoficos.wordpress.com/2009/05/28/mulheres-no-sex-shop/

Um superbeijo nas
bochechas lindas de todos vocês!

crica disse...

Ah! Lampião, estive no BOteco Sujo hoje e até deixei lá um recadinho.

Mas você conhece esse aqui:
http://www.revistaandros.com.br/

Tô com saudades...

Marlos Salustiano disse...

Bom, Cricota, o lance é o seguinte: o convite que propús à vocês nunca consistiu em "formação de fã clube ou seita fanática pró-Pamela Paul" ou sequer possuiu ranço neoconservador justamente porque eu sou um praticante-consumidor-defensor assumido de libertinagens!*rsrs

Mas veja bem: LIBERTINAGENS MESMO, ao contrário de pornografia misógina-homofóbica (que é única e tão somente a suma das taras de controle demarcatório do patriarcado).

A NOSSA - minha, tua, do Pedro, do Lamp, da Bê e de quem mais vier - argúcia, vivacidade, experiência (e sobretudo as muitas referências culturais que temos) é que funciona/funcionará como motor desse debate, que é muito rico e importante.

Obviamente, estaremos desfolhando o PORNIFICADOS com o auxílio mais que luxuoso de Maria Filomena Gregori, Simone de Beauvoir, Naomi Klein, Maria Rita Kehl, Camile Paglia, Susan Sontag, Wilhelm Reich, Michel Foucault, Zizek, e por aí vai (só pesos pesados!*rsrs).

À propósito, baixei e vi o vídeo da Gregori: formidável!

Sou totalmente pró-Sex Shop e mais ainda: defendo que na falta de grana, deve-se desavergonhadamente inventar brinquedos (por exemplo: depois que daquela cena do "Cidade de Deus" em que uma mulher ensina outra a fazer sexo anal usando uma banana aquecida no forno, essa dica foi parar até em seções de revistas tipo Marie Claire*rsrs).

Mas justamente: acho maravilhoso que as mulheres usem o sex shop como coadjuvante de um processo sexualmente criativo, descobrindo a si mesmas e expandindo suas possibilidades de prazer!

Por outro lado, a pornografia misógina que impera na indústria IMPÕE um uso totalmente reacionário desses recursos, tanto que existe uma diferença GIGANTESCA entre os filmes de lésbicas dirigidos por homens (e voltados pro público masculino) e os filmes de lésbicas dirigidos por mulheres (e voltados pro público feminino).

Nos primeiros a ausência masculina é compensada pelo uso abusivo de consolos (dos mais variados tamanhos) e de lubrificação artificial (KY, etc), pra poder consumar o mais rapidamente possível a "ocupação" dos orifícios disponíveis, tudo dentro do jogo de exploração quantitativa-extensiva que é típico da libido patriarcal.

Nos últimos, a coisa rola de uma maneira COMPLETAMENTE DIFERENTE: há pouco ou nenhum uso de consolos, a duração das cenas varia, a dinâmica de entrosamento físico varia, porque decorre de um jogo libidinal QUALITATIVO-INTENSIVO (não há absolutamente preocupação alguma com posições acrobáticas ou com o uso exploratório de objetos, mas sim com a qualidade e a intensidade da conexão física e emocional) e acima de tudo: ao contrário da abundância de lubrificação artificial, vemos finalmente entrar em cena os sumos vaginais (signo da presença ativa do desejo feminino).

(...)

Quanto à entrevista de Sasha Grey no programa da Tyra Banks, dá pra resumir da seguinte maneira: ela foi lá defender a tese de que é possível sim uma mulher realizar-se dentro do contexto da pornografia e enfrentou bravamente a entrevistadora e a platéia que, numa postura puritana e hipócrita, a patrulharam de todas as formas possíveis.

Mas fascinante mesmo foi o confronto argumentativo entre a Sasha e uma ex-atriz pornô (tá no 3º link) que deu um depoimento experimentado e relevante sobre a questão, mostrando o lado negro da indústria de filmes "adultos".

Sasha amadureceu muito de então pra cá, tanto que veio gradualmente migrando do mercado pornográfico para a cena do cinema alternativo e independente.

A nova morada da libertinagem saudável e da sexualidade libertária e igualitária é o CINEMA INDEPENDENTE off-hollywood e off-pornografia.

Mais tarde eu volto pra esmiuçar melhor essa questão!

Há braços!

Lampião disse...

Eita,
vou avisando não quero guerra nem polêmicas, mas gostaria de meter (opa) a colher no pirão.
Uma, o termo livreco é usado entre editores para designar livros que o autor usa a boca de outras pessoas para falar o que pensa sem ter de provar "cientificamente".
Um exemplo de "livreco" entre agentes editoriais é aquele livro técnico que tem mais de 3 APUDs no rodapé a cada 100 páginas.
Não li o tal livro, enm lerei, acho, mas as paginas que li no tal de google books mostram isto, tá cheio de coisas assim :"segundo um entrevistado de oklahoma...."
Tecnicamente dizendo é livreco, e pior a cultrix que já publicou coisas sérias e interesants entran neste mercadinho barato de chamadas como "como a pornografia mexeu com as nossa famílias" (tô citando de memória) é foda, para vomitar mesmo.
Livreco!
Olha preciso arrumar tempo e animo, mas vou escrever de novo sobre isto, PORNOGRAFIA, enquanto não arrumo nem um nem outro, alguém me explica o que é exatamente "pornografia misógina-homofóbica (que é única e tão somente a suma das taras de controle demarcatório do patriarcado). "
E também o que seria algo como sexualidade matriarcal, ou sexualidade libertária, ou lacre patriarcal, ou outras coisas?
vou repetir o que disse lá em cima, não quero criar guerra nem polêmica, mas acho que existe alguma outra categoria sexual que não conheço, a última era o tal de sexo tântrico praticado pelo Geraldo, onde segundo ele só se goza cada 3 meses, se é que entendi direito.
Tempo limite, amanhã volto aqui....hehe.
Lamp

Marlos Salustiano disse...

Quando as meninas se tornam moças, seus pais não costumam organizar pra elas uma visita especial ao Clube de Mulheres, pra que elas possam escolher michês bonitos, experientes, musculosos e bem-dotados pra deflorá-las e iniciá-las nas mil e uma posições e putarias.

E se elas porventura dissessem aos pais que preferiam ser defloradas por uma outra mulher, seriam severamente punidas com ofensas, sanções econômicas ou até agressão física e expulsão do "lar".

Bom, voltando aos fatos: não foi assim que minha mãe celebrou seu primeiro mênstruo, nem tampouco foi assim com a mãe da Crica ou com a própria Crica (aliás acredito que não tenha sido assim com a mãe de ninguém).

Em contrapartida a maioria dos meninos, ao se tornarem rapazes (celebrando suas primeiras ereções e ejaculações) são levados ao puteiro pelo próprio pai ou por um tio, primo, amigo mais velho, etc.

Chegando lá terão um variadíssimo "cardápio" pra escolher. E a soma de todos os relatos dos frequentadores, que outrora (numa época pré-internet) formava uma espécie de "tradição oral" (uns recomendando aos outros as melhores boqueteiras, as mais reboladeiras, as que fazem o anal mais perfeito, etc,etc), hoje se encontra disponível na Web em fóruns (por exemplo: http://forum.hotside.com.br/) criados pelas "empresas" prestadoras de "serviços" de "acompanhamento" e gerenciados pelos seus respectivos "empresários".

Em contrapartida não há forum algum de relatos de experiências das mulheres com michês.

Porque não?

Dentre as várias respostas possíveis figura uma óbvia e mais-que-plausível: porque vivemos dentro de um sistema patriarcal que dá ao homem o direito de servir-se de um cardápio de mulheres, mas não dá às mulheres o direito de se servirem de um cardápio de homens.

Mulher que ousar fazer o mesmo, será chamada de vagabunda, puta, etc. Será injustamente desvalorizada.

Já pensaram se alguma vez nossas avós tivessem tido o DIREITO OFICIAL de conversar assim com nossas mães:"Tem um michê lindo num puteiro lá no centro da cidade, olhos verdes, bem-humorado, experiente, com um cacetão maravilhoso, comprido, grosso, cabeçudo, durão, hálito maravilhoso, pele cheirosa, que demora muuuito pra gozar e sabe meter gostoso que eu te recomendo muuuito! Você vai ficar viciada em dar pra ele! Êta homão gostoso: enquanto ele mete você pode aproveitar pra siriricar com uma mão enquanto com a outra vai sarrando ele todinho..."?

(...)

Misoginia: na pornografia dos anos 90 pra cá se tornou obrigatório um certo número de práticas brutais, sendo que a mais comum delas é o choking ("engasgamento"), geralmente acompanhado de "strangling" (estrangulamento).

Consiste no seguinte: enquanto a "atriz" está fazendo sexo oral no "ator" pornô, ele tapa o nariz dela e aperta sua garganta pra que ela sufoque/engasgue e de uma golfada em seu pênis.

E uma variante sádica da ejaculação facial também se tornou comum: o "ator" ejacula no chão pra que a "atriz" limpe/lamba logo em seguida.

Homofobia: a bissexualidade masculina é PROIBIDA na pornografia oficial (ao passo que a bissexualidade feminina é obrigatória). Praticamente não existem cenas pornográficas de duplo-oral em uma mulher (2 homens se revezando ou chupando juntos a 'crica' de uma atriz pornô), ao passo que o contrário é rotineiro e frequente.

Libertinagem saudável é tudo o que seja radicalmente contrário às práticas abjetas reunidas aqui: www.sickestsites.com

Sexualidade libertária é aquela que não se deixa tolher por pudores moralistas hipócritas e nem se deixa enganar por simulacros de liberdade.

Marlos Salustiano disse...

Bom, Cris, então deixa eu modificar a pergunta: e se uma de suas filhas resolvesse DIRIGIR um filme pornô?

(elenco: ela + amigas e amigos da faculdade ou do cursinho de inglês ou whatever...)

E não seria um filme pornô qualquer: seria um bem bacana, diferente, atendendo a todas as queixas feitas pelas mulheres que curtem sex shop e vídeos eróticos, mas que sempre ficam insatisfeitas com os produtos lançados no mercado.

Pra ficar ainda mais contracultural: seria distribuido gratuitamente via internet (ou seja, sem fins lucrativos e sem prostituição) quase que num ATO DE FÉ libertário: uma prazeirosa defesa PAGÃ do direito existencial humano ao prazer exibicionista, rompendo com a "moralice" judaísta, mussulmana e cristã.

E aí: qual seria sua reação?

Na verdade minha pergunta é: quais são os teus critérios, enquanto mãe e educadora, pra orientar suas filhas e alunas(os) em relação à pornografia?

Porque se a postura da Pamela é de um feminismo moralista anti-pornô (e essa é uma crítica legítima e acertada sua), qual seria então a SUA contrapartida?

Como seria um contrato social pós-feminista, anti-moralista e pró-pornô?

Acho importante o seu depoimento, porque você é guerreira, tem uma postura liberal e anti-moralista mas também, por outro lado, não é também ingênua à ponto de acreditar que a pornografia é o lugar 'par excellance' da VERDADE acerca do sexo e da sexualidade humana.

Lembrei daquele nosso papo no MSN, quando você me contou sobre uma aluna sua que foi expulsa do colégio porque foi descoberto um vídeo dela circulando pela Internet.

A postura da sociedade é sempre a de CRUCIFICAR: expulsar, punir.

Mas a verdade é que fica todo mundo curioso pra assistir (e muitos afim de GOZAR assistindo).

Deu até vontade de escrever um conto nelsonrodrigueano: um zelador nordestino de meia idade (nosso herói proletário), divorciado, depois de um dia estressante de trabalho resolve dar uma passada na locadora pra alugar um dvd pornô.

Ao voltar pra casa ele toma um banho, janta, assiste o telejornal e em seguida bota o filminho.

Mas aí a situação se complica: à certa altura do "ticaracatica", em pleno FERVOR masturbatório, nosso herói se dá conta de que uma das moças ali naquela cena quentíssima de suruba é na verdade a filha dele que fugira da casa da mãe 2 anos atrás (quando tinha 15 anos de idade).

Nosso herói, incrédulo, pausa o filme. Dá um zoom no rosto da moça.
Não há dúvida: é mesmo a sua filha.

E agora: irá nosso herói (numa verve nietzscheana além do bem e do mal) continuar sua punheta até o gozo ou irá ele (assombrado pelo superego judaico-cristão ou então, diversamente, por um genuíno amor pela sua prole) interrompê-la?


...


É aquele lance: a mocinha bonita que está lá na tela da tv, naquela super-excitante cena de suruba, gemendo enquanto é triplamente penetrada (boca, ânus, vagina) é filha de alguém.

As "atrizes" pornôs, todas elas, são filhas/mães de alguém.

Quem é esse "alguém"?

Ah, é aquele sujeito desconhecido que a gente gosta de defender (demagogicamente?) em nossa retórica humanista e politicamente correta...

wagner pires disse...

Pessoal, sugiro, já que é para "não precisar ler", Amar, Verbo Intransitivo, Alexandra Kollontai, e Três Ensaios sobre Sexualidade.
Não li, mas dizem que Camille Paglia é legal, fica na lista, também.
Até mais.

Marlos Salustiano disse...

Bom, na verdade a proposta é bem simples: não se trata de "não precisar ler", mas de ler sim, só que aos poucos, fragmentadamente, de maneira não-linear até, sempre dissecando cada trecho selecionado usando como "bisturis" nossas vivências e também outros livros (e aí, como mencionei 11 dias atrás, entram Maria Filomena Gregori, Simone de Beauvoir, Naomi Klein, Maria Rita Kehl, Camile Paglia, Susan Sontag, Wilhelm Reich, Michel Foucault, Zizek, etc, etc).

Sem dúvida "Amar, Verbo Intransitivo", Alexandra Kollontai, e "Três Ensaios sobre Sexualidade" são ótimas dicas!

E acrescento ainda "Filha, Mãe, Avó e Puta" da Gabriela Leite!

A entrevista que ela deu pro Roda Viva tá imperdível:

parte 1: http://www.youtube.com/watch?v=Rnaf81eyIZA

parte 2 : http://www.youtube.com/watch?v=SLAqe-6j-Zg

parte 3: http://www.youtube.com/watch?v=m1gcdFOJZko

parte 4: http://www.youtube.com/watch?v=8eTUlUHHRtU

parte 5: http://www.youtube.com/watch?v=LB_wtE2k4-0

parte 6: http://www.youtube.com/watch?v=5QHuTcjaBeI

parte 7: http://www.youtube.com/watch?v=6m029Q-s27o

parte 8: http://www.youtube.com/watch?v=1zmvrqX475I

parte 9: http://www.youtube.com/watch?v=xngudz43SAE


Há braços!

Lampião disse...

Porra, empacou?
Não vão mais ler?
Lamp

Juju disse...

Olá! Há tempos venho refletindo sobre a questão da pornografia e não tinha encontrado ninguém com bom embasamento teórico pra discutir. É incrível a falta de conhecimento sobre o surgimento do patriarcado e as repercussões sobre certos padrões mantidos até hoje, em especial no que se refere na sexualidade masculina. Esse blog é um oásis no mar de ignorância vigente!!! Sou ginecologista e é na minha mesa que assisto as consequências do imenso dano que essa sociedade "fálica" ainda é capaz de causar em várias mulheres. Hoje é meu primeiro dia aqui no blog e espero ler tudo o mais rápido possível. Parabéns pela iniciativa!